Publicada em 1920, RUR foi encenada pela primeira vez em janeiro de 1921. O sucesso foi imediato – já em 1923, a peça havia sido traduzida para mais de 30 idiomas.
Se hoje RUR é conhecida por ser a obra que cunhou o termo “robô” (do tcheco robota, “escravo”, “trabalho forçado”), acredito que na época de seu lançamento essa obra chamou a atenção principalmente por ser um retrato muito acurado de seu tempo.
RUR é, na verdade, uma forte crítica à Revolução Russa. Na peça temos a revolta dos robôs contra a humanidade que os escravizou. Os ecos da Rev Russa se encontram principalmente na situação dos trabalhadores após a revolução – trabalhadores que achavam que estavam se libertando da opressão czarista, apenas para se verem ainda mais oprimidos poucos anos depois.
Entretanto, Čapek faz mais do que uma crítica à Rev Russa. O autor irá discutir também a relação entre tecnologia e desemprego (em 1920 !!), a ideia de libertar a humanidade do trabalho, o barateamento da produção e a elevação do consumo. Čapek conseguiu perceber elementos que estavam apenas começando a aparecer em sua época e que seriam discutidos mais abertamente apenas muitos anos depois.
Essa edição conta com ÓTIMOS textos de apoio – prefácio, apresentação e posfácio, além da peça de Čapek e uma versão adaptada, em prosa, feita por Rogério Pietro.
Em relação à peça, que preferi ler primeiro (para conseguir avaliar melhor a adaptação depois), achei muito interessante a forma que Čapek encontrou para contar a sua história. Afinal, essa é uma peça, então a forma impõe algumas limitações (e.g. a restrição de cenários) e Čapek contornou isso com maestria, conseguindo colocar muita coisa em um espaço limitado.
Já a adaptação feita por Rogério Pietro, moderniza alguns elementos da história, traz algumas preocupações atuais para o enredo e expande a narrativa de Čapek – e foi muito interessante notar como a história imaginada por Čapek comporta esses novos elementos.
Embora curtinha, a peça de Čapek carrega tantas camadas, tantas reflexões e permanece tão atual que chega a ser assustadora a capacidade desse autor de entender os acontecimentos do seu tempo e prever seus desdobramentos.
Recomendo!!
Resenha da Renata Martins, do @inparadisum, você confere a resenha original por aqui.
Gostei desse livro, quero comprar.
SINOPSE
A humanidade criou os robôs, uma raça sintética, a fim de substituir toda a mão de obra. Pessoas de todo mundo fizeram deles seus criados domésticos. Empresas grandes e pequenas trocaram os trabalhadores por robôs baratos e sem salário. Governos democráticos e tiranos ampliaram seus exércitos com os sintéticos, incansáveis e obedientes maquinários, numa corrida armamentista robótica silenciosa. A Robôs Universais de Rossum, situada na distante ilha de Rossum se tornou a empresa mais lucrativa da história, vendendo bilhões de trabalhadores-robôs para todo o planeta. O sonho de Harry Domin, diretor geral dessa fábrica, aos poucos se torna realidade. O mundo em transição se prepara para o roboticismo, um sistema social baseado no trabalho exclusivo dos sintéticos. Mas o que parecia uma utopia perfeita, de repente, tem seu brilho apagado pelas sombras da revolução. Estimulados por humanos que não aceitam a opressão, os robôs despertam para a própria realidade de trabalhadores escravizados. Assim, os bilhões de sintéticos espalhados por toda parte repentinamente percebem que os humanos são uma ameaça que precisa ser exterminada.