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Como escreve Geovana Pelegrin: “A minha história com a escrita”

Eu nunca fui de falar muito, pelo menos não com a boca. Sempre falei muito apenas com as palavras, e elas não me cansam nunca, nem quando eu penso que vou me cansar em um dia qualquer. A conexão que tenho com elas surgiu quando uma vez minha melhor amiga me disse que estava triste e que precisava da minha ajuda para entender tal tristeza. Ela disse isso por meio de uma mensagem, então eu a ignorei pra tentar pensar em alguma coisa que pudesse, de fato, ajudar. Tentei escrever e falhei miseravelmente. Tudo o que saiu foi um emaranhado de palavras que não fazia sentido algum, nem mesmo para mim, que tinha pensado em escrever tudo aquilo. Mas, mesmo com aquele desastre eu não desisti de dar algo em resposta àquela tristeza. Não desisti porque no mesmo segundo em que eu li minhas palavras mais uma vez e não entendi nada, eu busquei por algum texto que tivesse algo a ver com aquele sentimento que eu queria passar pro papel, ou pra mensagem. Encontrei um texto do Fernando Pessoa no Tumblr, e no Tumblr eu me encontrei e encontrei textos que eu compreendia de uma maneira tão sensacional que eu pensei “quero passar essa mesma sensação pra alguém que ler um texto meu”. Então eu comecei a escrever o que eu gostaria e o que eu sabia que poderia causar algum efeito de “puta merda, é isso mesmo que eu tô sentindo!”. E esse efeito foi o que eu consegui receber da minha amiga. Ela gostou e entendeu o que estava sentindo, e eu, gostei de escrever e gostei do sentimento que a escrita me trouxe. A partir daí eu comecei a escrever um, dois, quatro textos por dia. Alguns não faziam sentido. Outros, menos ainda. Se alguém pegar um texto meu hoje, dificilmente vai entender uma palavra. Eu era uma confusão e, consequentemente minhas palavras também eram, mas eu não desisti, não. Eu fui mais longe com o sonho de proporcionar algum sentimento pra alguém: decidi começar a escrever um livro, aos 13 anos. Não deu certo, é claro. Eu não tinha ideia de como se escrevia um livro e se começava a escrever uma história, não sentia conexão alguma com os personagens. Isso foi se arrastando. Comecei umas 5 histórias e em nenhuma delas eu me sentia conectada. Mal sabia eu que a conexão viria anos depois, com pitadas de sofrimento, crises de ansiedade e medo do mundo.

O meu primeiro livro, Talvez seja tempo, não foi escrito porque eu tinha só um sonho de escrever um livro e publicar. Ele foi escrito porque eu simplesmente não conseguia falar sobre um determinado assunto: sobre os meus sentimentos e sobre como eu me sentia com determinada coisa. 

Parece muito idiota, mas não sou só eu que passei por isso. Muita gente já passou e passa por isso. As pessoas têm medo de falar sobre o que sentem, e elas têm esse medo porque como diria a protagonista do meu livro: “tem muita gente que não dá a mínima para os sentimentos de alguém”. Isso fere uma pessoa. Isso faz com ela cada vez mais se afunde em um poço de sentimentos sem fim, que vai engolindo-a aos poucos simplesmente porque hoje em dia “tudo é frescura”, “tudo é drama”, “tudo é falta de um deus”, “tudo é querer chamar atenção” e “tudo é nada”. Mas vou te falar: tudo é tudo. E esse tudo dói. Dói porque uma pessoa simplesmente quer falar sobre algo e alguém não a ouve. Alguém não dá a mínima. E alguém pouco se importa.

Eu escrevi o “Talvez seja tempo” porque vi que eu precisava colocar pra fora meus sentimentos de alguma maneira, senão ia enlouquecer. Escrevi porque pessoas de qualquer lugar precisam saber o que uma pessoa depressiva sente, e como é o seu mundo. Não só isso, mas também ver que o que a gente sente está longe de ser uma frescura, ou a falta de alguma coisa. Escrevi porque foi a maneira que eu encontrei de me descobrir como alguém que pode, sim, fazer uma pessoa sentir algo a mais do que só aquilo que já está acostumada a sentir. E vou te dizer: esse processo não foi nada fácil.

Comecei a escrever o livro no dia 24 de setembro de 2015 às 7 horas da manhã, na escola. Mais especificamente no terceiro ano do ensino médio. E terminei de escrever no dia 26 de janeiro de 2017 às 6:10 da manhã de uma quinta chuvosa. Eu senti um alívio enorme quando coloquei o último ponto final, e chorei. Chorei porque um sonho de anos havia se realizado, e só foi realizado porque eu me permiti não desistir. Não que no meio do processo eu não tenha pensado em desistir. Pensei, sim. Óbvio. Mas continuei porque sabia que aquilo que eu escrevia era bom e que podia ajudar alguém. Eu confiei em mim mesma (coisa rara na época), e continuo confiando porque foi a melhor coisa que já fiz com a minha própria história e com histórias de pessoas que eu nem conheço, mas que me inspiraram em cada momento dos meus dias com a escrita.

Texto de Geovana Pelegin, autora de Talvez Seja Tempo

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